Retrospectiva 2021: Livia Sabag, diretora cênica
Há em curso um acontecimento impulsionado pelo contexto pandêmico que, a meu ver, torna o ano de 2021 extremamente importante na história da música clássica e da ópera no Brasil: o aumento significativo de projetos que promovem a criação de novas obras, e reflexões sobre as relações entre criação, performance, programação, público e contextos socioculturais. Estas iniciativas, que envolvem festivais, instituições culturais, casas de ópera, salas de concerto e universidades, veem a criação como elemento vital para o campo da música na contemporaneidade.
A Academia de Ópera 2021 da Fundação Clóvis Salgado, na qual tive o prazer de trabalhar como curadora e coordenadora artístico-pedagógica ao lado do maestro Gabriel Rhein-Schirato, envolveu um grande grupo de profissionais brasileiros e estrangeiros para discutir e trabalhar a dramaturgia dentro do campo lírico, com participantes de diversas áreas da música e do teatro. No coração do projeto, um Ateliê de Criação com orientações, aulas, processos de trabalho e conversas com grandes referências da área, dentre eles compositores convidados que criaram em parceria com cinco alunos do projeto, breves óperas inspiradas no romance O grande mentecapto do autor mineiro Fernando Sabino.
O Festival de Música Erudita do Espírito Santo, onde tenho atuado como curadora, também insere a criação no centro de seu projeto, não através de ateliês ou de encomendas de obras, mas de uma linha de programação focada na música dos séculos XX e XXI, nas relações das obras apresentadas com temas e contextos da atualidade e, de modo mais amplo, em reflexões sobre o papel da Arte e dos artistas em tempos de desigualdades gritantes, de crises nas relações interpessoais e de destruição massiva do nosso planeta.
Encerro este ano de trabalho com a esperança de que todos estes projetos, academias, ateliês, programas de formação e temporadas não sejam uma reação pontual à pandemia, mas evidências de um movimento de mudança que está apenas começando.
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