João Marcos Coelho: uma realidade que já não existe mais

por Redação CONCERTO 24/01/2022

Retrospectiva 2021: João Marcos Coelho, jornalista e crítico musical

Se devemos comemorar algo neste 2021 tão difícil, é certamente a relativa vitória sobre o coronavírus, uma vitória da população mais do que de qualquer instituição de governo. Relativa porque a ômicron e outras possíveis novas cepas podem provocar retrocessos numa retomada que, até dezembro de 2021, parecia muito bem-vinda e real. 

É uma pena, mas ninguém parece ter aprendido com 2020. Em 2021 o saldo é ruim quando se examinam as reações das instituições musicais no país (salvo honrosas exceções).  É inacreditável que as grandes orquestras continuem pensando numa realidade que já não existe mais: a das temporadas de concertos presenciais. Claro que estes devem continuar existindo, mas é preciso que todos – todos mesmo – sejam, senão transmitidos ao vivo, ao menos gravados e disponibilizados para a população de modo permanente. Verdade que, em passo de tartaruga, elas vão caminhar para isso. Entrementes, as boas ideias – sobretudo aquelas conectadas com a difícil, dificílima mesmo, realidade social e econômica que nos cerca, com fome à flor da pele de um terço da população brasileira, o que representa mais de 50 milhões de pessoas – ocuparam este espaço com competência. 

Como em 2020, também em 2021 a Ocam-USP, liderada por Gil Jardim, concebeu e executou projetos digitais admiráveis (como “Olho da Rua”, com o Padre Júlio Lancelotti).  Mesmo uma orquestra maior, como a Filarmônica de Minas Gerais, e a Sala Cecília Meireles construíram temporadas digitais fundamentais, fazendo girar de novo a roda de sobrevivência dos músicos e universalizando o acesso. 

O que será de 2022? A pergunta que não quer calar pode ter respostas catastróficas num ano eleitoral, em que os interesses políticos relegarão ao último plano as questões culturais e a música clássica, aquela que não dá lucro. “Eles” talvez não saibam ou não queiram saber, mas é a música que nos devolve o que nos resta de humanidade.

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João Marcos Coelho

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