Retrospectiva 2021: Gustavo Carvalho, pianista e diretor artístico do Festival Artes Vertentes
O ano de 2021 não foi nem um pouco mais fácil do que 2020... Às perdas, ao luto e aos retrocessos, somou-se a duração da pandemia, que entrava no seu 10º mês no início de janeiro. A classe artística se viu novamente diante de espaços culturais fechados e de espetáculos cancelados. Devido ao protelamento na aquisição de vacinas pelo poder público, somente a partir de julho o cenário cultural começou a vislumbrar possibilidades de reabrir os espaços culturais para o público e para os profissionais da arte e da cultura com a segurança que o momento exige. Voltar aos palcos, após tantos meses, e poder compartilhar a intensidade da experiência musical com pessoas que se encontram no mesmo espaço físico é uma das experiências mais transformadoras para um artista. Para mim, é como se, finalmente, eu voltasse a respirar.
Enquanto aguardávamos a reabertura das salas de concerto e teatros, tive a feliz oportunidade de gravar o Concerto para dois pianos e orquestra de Mozart com Cristian Budu, acompanhados pela Orquestra Ouro Preto sob a regência do maestro Rodrigo Toffolo – gravação que será lançada em 2022. A afinidade musical que experimento a cada instante ao fazer música com Cristian, a energia extremamente positiva da orquestra e a música celestial de Mozart transportou-me, por alguns dias, para outro plano. No palco da Fundação Clóvis Salgado, era como se tivéssemos superado esse momento tão sombrio que atravessamos.
No segundo semestre, com os equipamentos culturais em processo de reabertura, pude colaborar com a programação feita com extrema sensibilidade pelo Theatro da Paz, em Belém, e pela Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro.
A morte do pianista Nelson Freire também deixará marcas irreparáveis no ano de 2021. Perda imensurável, não só para o meio pianístico. O mundo se empobrece e acinza-se com a partida de um artista e ser humano de rara sensibilidade. Nelson deixa-nos a beleza da sua música, uma esperança para que sempre acreditemos na beleza da arte e no seu poder transcendente.
Torço para que, em 2022, as diversas iniciativas que trabalham para construir relações artísticas e profissionais justas e sinceras, aproximando a música clássica da sociedade em toda a sua pluralidade, resistam e continuem trazendo impulsos fundamentais para a transformação da sociedade por meio da arte.
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![[Divulgação/Bertrand Clavauc]](/sites/default/files/inline-images/l-GustavoCarvalho_photoBertrand-Clavauc__0.jpg)
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