Andrei Reina: é preciso reinventar a “normalidade”

por Redação CONCERTO 17/01/2022

Retrospectiva 2021: Andrei Reina, jornalista da Revista Bravo! 

2021 foi um ano de duas faces. Na primeira delas, marcada pelo isolamento prolongado, a relação com a música mediada (quase que) exclusivamente por telas mostrou seus limites. Embora a oferta de gravações e concertos na internet seja abundante, conectando-nos com o mundo, o vínculo com o aspecto produtivo da música parece se tornar mais abstrato quanto mais tempo passamos em casa. Sem a possibilidade de ver e ouvir músicos tocando ao vivo, de sentar ao lado de outras pessoas para compartilhar a escuta e de frequentar ensaios para produzir reportagens, o senso de comunidade esboçado por esse círculo parece se esvair, dando lugar a uma atomização da vida musical. Com cada um no seu canto, é mais difícil sentir-se parte de um meio. Se por algum motivo tivermos de voltar para casa em 2022, será preciso um esforço (individual, coletivo e institucional) para mitigar o esgarçamento desses laços, fundamentais não só para o retorno das atividades, mas também para a luta contra ameaças como as sofridas ao longo do ano por alunos e professores da Escola do Auditório Ibirapuera. 

Mas 2021 não foi apenas uma continuação de 2020. Parte dos músicos e do público voltou a se encontrar, em experiências mais ou menos bem-sucedidas. Como todo período de transição, ficam mais dúvidas que respostas. Sobre aquelas, a que causa maior preocupação se relaciona com o desejo – expresso por vezes de forma explícita – pelo retorno à “normalidade”. Por mais compreensível que seja, o sentimento tropeça em ao menos dois obstáculos, que podem ser formulados como perguntas. 1. O modo como o mundo dos concertos estava organizando – da configuração institucional à escolha dos programas – era o mais adequado para o seu tempo e lugar? 2. A sociedade em que repousa esse mundo musical continua a mesma, passados dois anos de pandemia, crise econômica e tensão política? Na tentativa de responder a estas e outras questões reside, se não estou enganado, a possibilidade de continuarmos a criar, tocar e ouvir música de concerto juntos.

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Andrei Reina

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