Nova montagem de “O guarani” estreia e quer discutir retrato que obra faz dos indígenas

por Redação CONCERTO 12/05/2023

Uma nova produção da ópera O guarani, de Carlos Gomes, sobe ao palco a partir desta sexta-feira, dia 12, do Theatro Municipal de São Paulo. Com concepção do líder indígena e filósofo Ailton Krenak e direção de Cibele Forjaz, a montagem quer discutir o retrato feito pelo século XIX do indígena e as consequências geradas por ele. 

Dois elencos vão se dividir na produção. Nos dias 12, 14, 17 e 20, Peri será vivido pelo tenor Atalla Ayan; Ceci, por Nadine Koutcher; Gonzales, por Rodrigo Esteves. E, nos dias 13, 16 e 19, assumem os papeis Enrique Bravo, Debora Faustino e David Marcondes. Em todas as récitas, Licio Bruno interpreta o Cacique. A regência e direção musical é de Roberto Minczuk.

“Peri é uma caricatura de índio ridícula, a que estamos sujeitos há 150 anos”, diz Krenak. “Os povos originários se sentem ofendidos pela narrativa da ópera. E ela traz um dano cultural enorme por ter sido perpetuada acriticamente por tanto tempo. O Guarani... Não sei se o verbo existe, mas a obra ‘despessoa’ o sujeito e o transforma em uma figura mítica. E uma pessoa mitológica não precisa de comida, de terra, de vacina.”

Para a diretora Cibele Forjaz, a ópera, ao propor um sentido de integração nacional no qual o indígena passa por um processo de catequese, acabou servindo como base “de uma identidade nacional na qual o invadido precisa ser vestir da cultura do invasor”. “Essa integração é uma forma de genocídio e extermínio. Toda a luta do povo indígena nos últimos cem anos é o oposto disso, é o direito à diferença, a culturas vivas, que dialogam com o contemporâneo a partir de suas crenças, culturas e línguas”, explica a diretora.

Para dar forma a essa ideia sobre o palco, a diretora trabalhou a noção do “duplo”. De um lado, está o cantor lírico interpretando Peri, cantando em italiano. E, de outro, estará o ator David Vera Popygua Ju, do povo guarani Mbya. Os cenários, por sua vez, vão evocar uma metáfora do Padre Antonio Vieira, recuperada pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro em O mármore e a murta. A rigidez do mármore está associada ao colonizador, enquanto a murta, a planta, está sempre em movimento. “Serão três planos”, explica Cibele. “A obra de arte, pois é importante que a força da ópera esteja íntegra. Uma pedreira de mármore. E, atrás da pedreira, a aldeia, que começa invisível, invisibilizada, e vai aparecendo ao longo da ópera, crescendo, até atravessar a pedreira”, conta a diretora.

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Cena da produção de 'O guarani', no Theatro Municipal de São Paulo [Divulgação]
Cena da produção de 'O guarani', no Theatro Municipal de São Paulo [Divulgação]

 

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