Mirella Freni (1935-2020): uma carreira em dez gravações

por João Luiz Sampaio 10/02/2020

Uma das mais importantes sopranos do século XX, a italiana Mirella Freni morreu no domingo, dia 9, aos 84 anos. Intérprete marcante de papeis de Puccini e Verdi, ela esteve no Brasil em 1999, para um concerto no Theatro Municipal de São Paulo. E deixa um legado que a Revista CONCERTO recupera em uma lista de dez gravações históricas.

Susanna, em As bodas de fígaro, de Mozart
Freni foi Susanna na histórica gravação de As bodas de Fígaro, de Mozart, com Karl Böhm na direção musical e Jean Pierre Ponelle na direção cênica. Em tempo: há no YouTube um registro raro de 1974 da mesma ópera, no qual ela canta o papel da Condessa no Scala de Milão, sob regência de Claudio Abbado.

 

Mimi, em La bohème, de Puccini
Este foi talvez o papel mais marcante de Mirella Freni. E há diversos registros disponíveis. Neste filme, dos anos 1970, ela aparece ao lado do tenor Gianni Raimondi, sob direção de Franco Zeffirelli e regência de Herbert von Karajan, maestro fundamental em sua trajetória. Em tempo: entre os CDs, há o registro clássico com o tenor Luciano Pavarotti e Karajan para a Decca, mas uma opção é a gravação com Thomas Schippers e Nicolai Gedda, feita no início da carreira.

 

História de uma amizade
Freni e Pavarotti nasceram na mesma rua em Módena, na Itália, e mantiveram uma importante amizade, dentre e fora dos palcos, com Puccini como padrinho em diversas gravações lendárias. Neste registro de 1964, os dois interpretam a cena final do primeiro ato de La bohème regidos pelo maestro Nello Santi, outro grande nome da tradição operística italiana, falecido na semana passada. Santi extrai da orquestra um som especial, dá espaço aos cantores e... bom, é só ouvir para ver o resultado.

 

Cio Cio San, em Madama Butterfly, de Puccini
Outro Puccini importante na trajetória de Freni foi Madama Butterfly. A soprano nunca viveu o papel de Cio Cio San nos palcos, mas deixou dele duas gravações notáveis, regidas por Karajan. Na primeira, tem ao seu lado o tenor Luciano Pavarotti; e, na segunda, um filme, Plácido Domingo. Em ambas, faz um dueto de amor do primeiro ato inesquecível. Difícil escolher.

 

Manon, em Manon Lescaut, de Puccini
Mais dois Puccinis, antes de irmos adiante. Manon Lescaut, com Pavarotti – que cena final dilacerante, desta vez com regência de James Levine, em 1993. E Tosca, com regência de Giuseppe Sinopoli, em 1992. 
 

 

Adriana, em Adriana Lecouvreur, de Cilea
Papeis do verismo não estiveram entre as especialidades da soprano, apesar de sua Nedda em I Pagalicci. Mas aqui ela oferece, ainda no início da carreira (1968, Scala, sob regência de Antonino Votto), uma interpretação marcante de Io son l’umile ancella, ária de Adriana Lecouvreur, de Cilea, papel que cantaria anos mais tarde no palco.

 

Manon, em Manon, de Jules Massenet
No repertório francês, destacam-se em especial sua Micaela, na Carmen, de Bizet, e Julieta, na ópera de Gounod inspirada em Shakespeare. Algunes registros históricos, no entanto, precisam ser lembrados, como uma Manon, de Massenet, em 1966, em Modena – mesmo que cantada em italiano –, e um Fausto, de Gounod.

 

Desdêmona, em Otelo, de Verdi
Em filme, com Karajan (aqui na regência e na direção cênica), Freni foi uma das mais importantes intérpretes de Desdêmona no Otelo, de Verdi. Aqui ao seu lado está o tenor Jon Vickers – e a intensidade do cantor somada à delicadeza de Freni fizeram desta gravação uma das mais comoventes desta obra da maturidade verdiana.

 

Elisabetta, em Don Carlo, de Verdi
Ao longo da carreira, Freni foi ampliando a lista de papeis de Verdi que interpretou – alguns deles, só em estúdio. O guia nesse processo foi Karajan, um dos responsáveis por sua transição para papeis mais dramáticos. Aida talvez seja o mais célebre deles – mas há também sua Elisabetta, no Don Carlo, gravada nos anos 1970 em Viena, personagem à qual ela dá dimensões nem sempre presentes na leitura de outras sopranos.

 

Tatiana, em Eugene Onegin, de Tchaikovsky
Nos anos 1990, Freni gravou com James Levine a ópera Eugene Oneguin, de Tchaikovsky. Sua Cena da carta é de enorme delicadeza – como quem a ouviu em recital em São Paulo em 1999 deve se lembrar. Nesta gravação, vale também ouvir a cena final, para relembrá-la ao lado do barítono Thomas Allen.

 

A soprano Mirella Freni [Reprodução]

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