“É uma programação diversa, inquieta, multicultural e pra todos”, afirma Hugo Possolo, diretor artístico do Theatro Municipal
Sete óperas (em seis espetáculos), 16 programas sinfônicos e uma celebração especial dos 250 anos de Beethoven marcam a programação clássica da nova temporada do Theatro Municipal de São Paulo.
A agenda contempla ainda eventos do projeto Novos modernistas, com dois espetáculos de características operísticas, peças de teatro, a segunda edição do Eté-Festival Corpo, as apreentações do Balé da Cidade e uma extensa programação da Secretaria Municipal de Cultura, como o aniverário da cidade, o Festival verão sem censura, a Virada cultural, mostra de cinema e a promoção do Dia do samba, da Noite de gala do circo e do Dia internacional do palhaço.
A grande notícia é a retomada das séries de assinaturas, tanto para as óperas como para os concertos sinfônicos. Ainda não há informações mais detalhadas, mas o início das vendas está previsto para a segunda metade de janeiro.
“O que amarrou a escolha das óperas é o que elas teriam a dizer sobre os dias de hoje”, afirma Hugo Possolo, diretor artístico do Theatro Municipal. “Tive a preocupação também, depois dos debates realizados em torno da ópera Prism, de que o espaço contasse com uma ocupação feminina maior e uma temática relacionada a isso.”
A estreia da temporada lírica será em março com Aida, de Giuseppe Verdi. A direção cênica será de Bia Lessa. “Além da questão da escrava que a ópera levanta, tem a questão da guerra e da separação de mundos, que eu acho tem muito a ver com essa polarização que a gente está vivendo no mundo inteiro hoje”, afirma Possolo.
O segundo espetáculo, com estreia em junho, é uma dobradinha de duas encomendas baseadas em peças de Plínio Marcos (1935-1999): Navalha na carne, com composição de Leonardo Martinelli, e Homens de papel, de autoria de Elodie Bouny. A direção cênica será do ator, cenógrafo e figurinista Zé Henrique de Paula junto com a atriz, diretora musical e dramaturga Fernanda Maia, os dois do Núcleo Experimental.
“Já tínhamos no ano passado a perspectiva do projeto do Leonardo Martinelli com a ópera Navalha na carne”, conta Possolo. “Eu comecei a discussão com ele e propus o double bill com uma outra ópera baseada no Plínio, com autoria de uma mulher, para dar um choque, para a gente mergulhar profundamente nesse universo. Eu conheço bem a obra do Plínio e acabei escolhendo, para que a gente não fique fechado num quarto como é o caso do Navalha, Homens de papel, que tem essa abertura para a cidade. Com isso, a gente abre espaço para o Coro Lírico, o que também era uma preocupação.”
O próximo título, com estreia em agosto, é Don Giovanni, de Mozart, que terá direção cênica de Lívia Sabag. “Eu queria ter uma ópera cômica, por que afinal de contas, esse é o meu ramo”, diz Possolo. “Fomos pesquisando, a temática feminina veio à tona e chegamos a Don Giovanni. E, como eu queria uma visão feminina, escolhi a Lívia Sabag, que eu senti que tem uma percepção muito contundente sobre o tema.”
A quarta montagem do ano, que estreia em setembro, é Benjamin, do compositor alemão Peter Ruzicka (1948). A ópera, estreada na Alemanha em 2018 e escrita para grande orquestra, solistas, coro e coro infantil, trata do filósofo Walter Benjamin e tem como personagens a filósofa Hannah Arendt e o dramaturgo Bertold Brecht. E é o próprio Hugo Possolo que assinará a direção cênica: “É sobre isso que eu tenho a dizer nesse momento, e isso tem a ver com a linha curatorial. Tudo trata desse momento polarizado, dessa questão da separação, e eu quero mergulhar nisso”.
Segue a ópera Fidelio, como parte das comemorações dos 250 anos de Beethoven, em atração extra-assinatura. O título será encenado fora do Theatro Municipal, em local aberto ainda não definido, e terá direção cênica de Rodolfo García Vasquez, fundador da companhia de teatro Os Satyros. “A ópera Fidelio tem a temática do exílio, do prisioneiro, e também de uma certa polarização, e aí veio a ideia de a gente levar o espetáculo para algum outro lugar que se relaciona com a temática”, explica Possolo.
A temporada se encerra com O morcego, de Johann Strauss Filho, uma ópera cômica que se passa em uma festa de réveillon. “É aquela ideia de uma encenação de final de ano, dentro daquele espírito que na Europa é muito comum”, fala Possolo. O título será apresentado pela Orquestra Experimental de Repertório, sob regência do maestro Jamil Maluf – a direção cênica ainda não está definida.
Todos os outros títulos da temporada serão regidos pelo maestro titular Roberto Minczuk, com exceção de Benjamin, em que algumas récitas serão dirigidas pelo maestro Alessandro Sangiorgi.
Já a série sinfônica terá 16 programas, em um total de 23 apresentações. A abertura será em março com a Sinfonia nº 3, de Gustav Mahler, sob direção de Roberto Minczuk. Participam a mezzo soprano Ana Lúcia Benedetti, o Coral Paulistano e o Coro infanto-juvenil.
Entre os destaques da temporada está a apresentação do oratório Cristo no Monte das Oliveiras, de Beethoven (em abril), a Sinfonia Alpina de Richard Strauss e o Concerto para piano nº 2 de Prokofiev (em julho), e o Concerto para 2 tímpanos de Philip Glass e a Sinfonia dos salmos de Stravinsky (também em julho).
Em dezembro, a Orquestra Sinfônica Municipal também fará uma ampla programação para festejar os 250 anos de Beethoven, em 8 concertos. Serão apresentadas as aberturas Egmont, Fidelio e Leonora de 1 a 3, os 5 concertos para piano e a integral das sinfonias. E, para encerrar o ano, orquestra e Coral Paulistano farão um concerto especial de Natal.
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