Prezada leitora, prezado leitor,

por Nelson Rubens Kunze 01/11/2004

O grande destaque do mês musical paulistano é a ópera Lohengrin de Richard Wagner, que toma o palco do Theatro Municipal em 5 récitas a partir do dia 19 de novembro. Com elenco internacional e participação da Orquestra Sinfônica Municipal e do Coral Lírico, a ópera terá direção musical e regência de Ira Levin e direção cênica de Cleber Papa. O título é a última montagem original da temporada lírica de 2004, que se encerra em dezembro com a retomada da elogiada versão de João e Maria realizada por Jamil Maluf em 2002.

A Oficina Cultural de Curitiba, uma das mais valiosas instituições musicais de nosso país, esteve ameaçada em sua realização – prevista para janeiro de 2005 –, como você poderá ler em nota publicada à página 5 desta edição. Não fosse um corajoso alerta de seu diretor artístico, o oboísta Alex Klein, talvez a Oficina tivesse sucumbido à burocracia da gestão pública. Trata-se de um caso emblemático, já que desde o início deste ano os assuntos musicais daquela cidade são administrados por uma Organização Social, o ICAC – Instituto Curitiba de Arte e Cultura, contratada pela prefeitura através de sua Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Conforme esclarecimentos da própria FCC, o complicador no caso foi a Lei de Responsabilidade Fiscal, que, dada as eleições, proíbe contratações antecipadas de despesas que só serão pagas com recursos do orçamento do ano seguinte...

Lembro dessa questão para retomar um problema sério para a música clássica, que, como sabemos, depende substancialmente de recursos públicos. O que se passa com a Oficina de Curitiba é mais um sinal da urgência para que aprimoremos os mecanismos de financiamento de nossos teatros, orquestras e festivais, para torná-los mais independentes das conjunturas e injunções políticas.

Acredito que esse é um assunto crucial para o amadurecimento de nossas instituições culturais. Não se trata de se esquivar de políticas culturais públicas – fundamentais em nossa realidade social. Trata-se, sim, de não ter de passar, a cada eleição, pela surpresa do que virá, com decisões normalmente muito mais guiadas pelo oportunismo político do que pelo interesse público.

Nelson Rubens Kunze
diretor-editor